quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O povo quer trabalhar, e agora?



Bem, já contei uma vez para vocês que o líder da ABU-Direito-Noturno-UFMG, o Erick, sumiu e por isso assumi o cargo. Hoje contarei a história de um líder antes desse, o Hank. Era um sábio, um grande homem, bondoso, preocupado conosco e pregava muito (na época não usávamos estudos bíblicos indutivos- EBI, éramos uma reprodução de uma igrejinha). Era, também, um grande teólogo e, inclusive, aprendi muito com ele. Nós o apelidamos de Cid Moreira, pois sabia a bíblia toda de cor.
Em resumo, ele era tão bom que só ele fazia tudo: ele pregava, orava, olhava o local que iríamos nos encontrar e, se precisasse, tocava violão. Ocorreu que um dia ele passou em um concurso e foi embora. Portanto, além de saber a bíblia mais do que todos, também era mais inteligente que todos. Voltamos do semestre e ficamos atordoados com a informação que nosso sábio havia saído. O grupo entrou em crise, o que faríamos? Fiquei triste e quase chorei, afinal era o líder que eu mais tinha admirado em minha vida. Achei que o grupo ia acabar... então, Presto, um aluno integrante do grupo, resolveu chamar os demais (na época 3) e dividiu algumas funções entre nós: Presto lideraria o grupo; Erick levaria a palavra (que virou meu futuro líder) e eu arrumaria uma sala e imprimiria uma propaganda sobre o grupo (o que nunca tinha sido feito).
Após duas semanas, retornamos nossos estudos, agora com a sala nova e com cartazes em toda a faculdade. A surpresa foi geral: em vez das tradicionais 4 pessoas, nosso grupo passou a contar com mais de dez pessoas!
Bem, Hank tinha sido um cara incrível e creio que será, ainda, um grande pregador. Todavia, ele havia juntado toda a responsabilidade de um grupo em suas mãos e nós, covardemente, ficamos parados admirando-o. Com sua saída, todos os integrantes do grupo se envolveram com a causa, ficamos mais integrados, mais corajosos, sentimo-nos mais importantes, conseguimos um maior envolvimento com a faculdade e, principalmente, passamos a convidar nossos amigos. Se antes Hank era responsável pela vida do grupo, no momento, todos nós éramos.
Como o leitor pode perceber, estamos tratando de divisão de funções, que é uma parte importante de qualquer liderança. Primeiro, impedimos a solidão do cume do poder (parece bobo, mas, se você se põe no alto, superior aos demais, responsável por todas as decisões, você acaba impedindo que outros se acheguem em você. A não ser que você desça até eles). Segundo, permitimos que pessoas utilizem seus dons (é bem triste se sentir subutilizado quando tem vontade de ajudar, ou se sentir fora da panelinha quando se quer trabalhar). Terceiro, possibilitamos que mais pessoas se envolvam no movimento...
Para quem não entendeu nada dessa parte
Se pensarmos que liderança é capacidade de influenciar, podemos ter ideia de um modelo que eu adaptei para vários momentos da minha vida: imagine um balde cheio. Imagine que um copo é virado lentamente sobre ele, deixando apenas que uma gota por vez pingue sobre aquele balde, criando ondas no líquido. Perto do local que cai a gota, a água irá muito para cima, todavia, com o afastamento do ponto de colisão, as águas se elevam bem menos. Agora imagine que dois copos diferentes são virados sobre o balde lentamente, sendo que as gotas caem na mesma frequência. As ondas ficarão maiores! Inclusive em locais distante dali! Dessa vez imagine mais e mais copos pingando... Bem, substitua o balde pela sua faculdade, o copo por líderes em seu núcleo e verá que, quanto mais pessoas envolvidas com seu propósito, maior será a capacidade de alcançar a sua faculdade, influenciando as pessoas ali presentes. E só há uma forma eficiente de permitir várias pessoas influenciando num determinado grupo: dividindo competências para permitir a participação de todos.
O bom líder (ou melhor, o líder “menos ruim”) é aquele que tem percepção suficiente para escolher pessoas para caminhar junto a ele. Como integrante de um grupo de ABU (principalmente liderança), devemos desenvolver os demais integrantes, dando-lhes recursos, autoridade (dentro do que você confia neles) e responsabilidade (nem de mais, nem de menos!).
Imagine uma criança. Você dará uma espingarda para ela brincar de matar passarinhos? Acho que não. Não por que não o ame, mas por que você o ama o suficiente para saber que ele não está preparado para aquilo... Agora imagine que você tem um filho adolescente, você dará para ele um brinquedo do Patati Patata para ele não se machucar? Uma grande virtude que devemos ter como liderança é capacidade de observar a realidade: não subestime o que os integrantes podem fazer, nem superestime! É perigoso nunca delegar nada de importante para os demais membros do seu grupo (como chance de levar estudo, representar o núcleo diante da escola, abrir uma palestra, cuidar de uma recepção de calouros, convidar palestrantes), pois eles nunca se sentirão verdadeiramente parte do movimento, mas meros observadores do que você faz.
Também é perigoso confiar demais. 2º Timóteo fala:  “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”. Sempre que vou delegar funções ministeriais, tento pensar nisso:
1- Pessoas que ouviram a palavra: pessoa que meditam sobre a bíblia;
2- Homens fiéis: não namorados, não engraçados, não bonitos, não que toquem violões, não populares, não parentes. Homens fiéis a Cristo, com a grande comissão, com o movimento, com o núcleo...;
3- Idôneos: ou seja, devemos refletir sobre o caráter da pessoa que está recebendo a delegação;
4- Tenham capacidade de ensinar os outros: não é ser bons professores, mas pessoas interessadas a capacitar e envolver outras pessoas, dividindo suas responsabilidades.
Talvez possamos até levar um grupo de ABU sozinhos, mas, tenho certeza, dividir esse trabalho não é só bom para o grupo, mas fundamental para você. Então, tenha autodomínio suficiente para não se intrometer no trabalho alheio! Às vezes nem tudo sai da forma que queremos (principalmente no começo da caminhada). Contudo, quem é você para determinar a qualidade de um trabalho? Às vezes tudo sai diferente, contudo é preciso dar uma chance para que outros integrantes do grupo façam da sua maneira: dê liberdade para que cada um contribua de acordo com sua liberdade, caso isso não esteja prejudicando seu núcleo. Não faça seu modelo de ser um modelo para todos do núcleo, sempre dando palpites e querendo mudar algumas coisas. Aprenda a deixar para lá. Lembre-se da música: “We don't need no education/ We don't need no thought control/ No dark sarcasm in the classroom/ Teachers leave them kids alone/ Hey! Teachers! Leave them kids alone!/ All in all it's just another brick in the wall./ All in all you're just another brick in the wall” (Não precisamos de nenhuma educação /Não precisamos de controle mental /Chega de humor negro na sala de aula  /Professores, deixem as crianças em paz /Ei! Professores! Deixem essas crianças em paz! /Tudo era apenas um tijolo no muro /Todos são somente tijolos na parede – Vagalume.com.br).
Nunca o sabote ou critique demasiadamente, também, as pessoas que estão recebendo as delegações. Ainda mais se for de forma sarcástica (principalmente no facebook)! Quando se faz isso, está apenas deixando refletir sua enorme insegurança em relação aos seus liderados, temendo que seja sombra de algum deles (como se a ABU fosse uma competição de popularidade ou de talentos). Você delegou função por que confiou neles! Lembre-se sempre disso antes de criticá-los. Mais uma vez o profeta em inglês nos faz refletir com sua música: “When we grew up and went to school/ There were certain teachers who would /Hurt the children in any way they could (oof!) /By pouring their derision /Upon anything we did /And exposing every weakness /However carefully hidden by the kids /But in the town it was well known /When they got home at night, their fat and /Psychopathic wives would thrash them /Within inches of their lives” (Quando crescemos e fomos à escola /Havia certos professores que /Machucariam as crianças da forma que eles pudessem (oof!) /Despejando escárnio /Sobre tudo o que fazíamos /E os expondo todas as nossas fraquezas /Mesmo que escondidas pelas crianças /Mas na cidade era bem sabido /Que quando eles chegavam em casa /Suas esposas, gordas psicopatas, batiam neles quase até a morte – Vagalume.com.br).
Hoje, falei apenas sobre a importância de se delegar cargos e dividir funções em nossos grupos, respeitando a individualidade do trabalho de todos. No próximo post irei falar sobre alguns cargos da ABU, sobretudo quanto ao núcleo e à diretoria de uma cidade. Em outro poste irei tratar do problema de uma visão fragmentária do serviço na ABU.
Como podem ver, delegar funções dá trabalho, até para quem está escrevendo sobre isso...
E você, alguma sugestão?

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