Talvez você
goste de xadrez, talvez não. Isso, em regra, não é relevante para a salvação, mas
pode ser útil para esse post. Imagine que um bispo domina uma longa diagonal
(a1-h8), oferecendo risco a linhas de peões adversários. O jogador adversário,
assustado com a jogada, avança um peão, tentando proteger sua linha e seu roque
(p. f6). Percebendo que a troca possibilitará um avanço crucial da rainha, o
bispo se entrega, forçando a troca com o peão g7. Todavia, a rainha não avança
- com medo, preguiça ou descaso - ela perde o tempo crucial do ataque, mandando
o cavalo em seu lugar.
Bem, isso às
vezes acontece na ABU. Às vezes seu núcleo se entrega por algo, se sacrifica
para que alguma coisa aconteça, mas os demais núcleos da mesma cidade não reagem
da forma que vocês esperavam. Muitas vezes nos esforçamos para fazer um evento
bacana (como treinamento, palestra, noite do pijama), todavia, já na fase de
preparação, algumas pessoas começam a reclamar dos preletores, do dia, do
local... então, após vários esforços para manter seus objetivos, vocês percebem
que os demais núcleos não se entregaram ao evento e, além de cansados, vocês se
sentem abandonados.
Para resolver
o problema da falta de sinergia entre os núcleos, uma vez que a ABU é um
movimento feito pela junção de grupos, é importantíssimo estabelecermos o GB
(Grupo Base). Trata-se de uma reunião administrativa que une os diversos
núcleos de ABU de uma cidade, acontecendo em datas predefinidas (quinzenalmente
ou mensalmente), podendo ter, inclusive, cargos determinados, que destoem dos cargos
dos núcleos (o que chamamos de diretoria da cidade: presidência, tesouraria,
oração). O GB é a garantia que todas as peças estejam pensando em equipe, em
prol de objetivos em comum.
Há cidades
que possuem apenas um núcleo, portanto, o GB será uma reprodução desse núcleo.
Entretanto, nesses casos, nada impede que definamos que o líder do núcleo seja
diferente do presidente do Grupo Base, nem que haja outros cargos que não são
comuns há um núcleo de estudos da faculdade (por exemplo, tesoureiro,
secretario de treinamento – no próximo post tratarei um pouco desses cargos).
Mesmo que o
núcleo se confunda com o GB, é fundamental termos reuniões de GB separadas, a
fim de evitar que se leve questões administrativas para nossos núcleos. Debates
administrativos nunca são agradáveis, pois, geralmente, não se chega a um consenso.
Em regra, são apenas debates em que vários integrantes tentam impor seu estilo
ou forma de pensar, o que pode ser desagradável para os visitantes e pode gerar
divisões na frente dos menos envolvidos (essas coisas normalmente geram brigas,
não comuns em núcleos de estudo).
Se há mais de
um núcleo na cidade, o ideal é que o GB tenha uma diretoria própria, envolvendo
várias pessoas de grupos diferentes. Por exemplo, há reuniões em 3 faculdades
particulares e em 1 pública, tente, então, ter representantes das quatro
faculdades. Isso é fundamental para o grupo saber que não está andando sozinho.
Claro, isso não é algo obrigatório, nem é, muito menos, uma forma de controlar
os núcleos. Mas, se podemos dar ouvido a todos eles, por que devemos nos fechar
numa panelinha? Devemos considerar também que um núcleo, em regra, é só um
núcleo, sendo seu caminhar solitário e, por vezes, triste. Quando passamos
dificuldades, na líderança de um núcleo, sem o apoio de toda ABU, somos apenas
1 pessoa passando dificuldade, mas, se tivermos noção de grupo, toda ABU
sofrerá conosco e nos ajudará a superar essas dificuldades.
O GB tem,
dessa forma, um fim administrativo, fazendo com que decidamos questões
procedimentais que envolvam o movimento de dada cidade. Com esse intuito,
podemos perceber que cabe ao GB:
1-
Estabelecer os objetivos do grupo de uma cidade (que tal fazermos uma semana de
palestras em nossas faculdades? Que tal integrarmos melhor as faculdades públicas
e particulares? Que tal fazer uma sorvetada para receber os calouros? Que tal
chamarmos uma banda para fazer um lual?);
2- Definir metas
para alcançar nossos objetivos (como podemos montar uma sorvetada pros
calouros? Que dia será? Quem pode comprar os sorvetes? Quem pode arrumar o
lugar? Quem cuidará da divulgação? Quem pode conseguir ofertas para deixar mais
barato para calouros? Como faremos cada uma dessas etapas?);
3- Interligar
diferentes núcleos de uma mesma cidade. Para isso, é crucial que se dê abertura
aos núcleos durante a reunião de GB, sempre perguntando: como vai o núcleo de Grayskull?
Como tem sido as reuniões? Como tem sido a participação de outros integrantes
do grupo? Quais os problemas têm enfrentado? Como os demais grupos podem
ajudar? O que planejaram para esse semestre? Após essas perguntas, bom seria
que os núcleos orassem um pelo outro durante a reunião;
4- Interligar
diferentes núcleos com a ABU regional e ABUB. Muitos núcleos perdem a noção do
tamanho da ABU. Muitos líderes nem se quer sabem o que é a ABU. Acham que ABU é
uma associação que financia cartazes, por isso devem escrever ABU nos cartazes
de seus clubinhos. Então, o GB é um bom momento de integrar esses núcleos,
fazendo repasses da região, da nova diretoria nacional, de encontros, de cursos
de férias, da ABU Editora;
5- Buscar um
retorno positivo ou negativo de toda ABU, da atuação da diretoria daquela
cidade e se os objetivos buscados pelo grupo como um todo tem sido alcançados
(Como foi o ciclo de palestras? Onde erramos? Onde acertamos? Como podemos
melhorar da próxima vez?);
6- Treinar os
núcleos. Se sua ABU da cidade tem tido dificuldades de entender o movimento,
leve um palestrante que explique como funciona a ABU; se vários membros têm reclamado
de exaustão, leve um palestrante que fale sobre como organizar o tempo; se
alguns têm medo do futuro, leve alguém que fale sobre provisões divinas. Escute
a ABU e veja o que precisa ser falada pra ela, sem dar indiretas (em breve,
aqui, no “... e agora, ABU?”);
7- Buscar confraternização
dentro da ABU: todas as peças devem estar jogando juntas, sendo guiadas pelas
mãos de só um jogador, que é Cristo. Nisso, não há espaço para o jogo
individual, marcado pela autoconsideração. Há lugar apenas para o jogo de
humildes subalternos do jogador maior. Devem, portanto, as reuniões buscar a
confraternização para que as peças comecem a pensar juntas, sendo guiadas pelo
jogador maior.
Confraternização
é fundamental. A vida nos mostra isso. Quando namoramos, por exemplo, tentemos
a ser bem mentirosos no início. Nossas namoradas nos chamam para ver balé, bem
no dia que passará UFC, mas fingimos que está tudo ótimo, mesmo que, no fundo,
estejamos desesperados para voltar para casa e ver as últimas lutas. Com o
passar do tempo, a namorada passa a respeitar nossos dias de UFC e passamos a
gostar dos dias de balés. Por fim, quando muitos anos se passam, a sinergia do
casal torna-se tão intensa que difícil é definir onde um começa e um termina:
ambos passam a pensar igual a tal ponto que é difícil imaginar um sem que se
imagine o outro.
O grupo é um
pouco assim, no começo as rusgas e as farpas voam loucamente. Com o tempo, as
amizades se afloram e um calor nos une. Mesmo que não concordemos com algo,
passamos a aceitar que aquela pessoa pense daquele jeito (minha namorada nunca
vai gostar de UFC, mas ela aprendeu a respeitar meu desejo por violência
gratuita e pelo desrespeito à integridade física dos lutadores – em
contrapartida nunca vou entender que graça tem ver homens dançando de colã, mas
continuo indo praquela confusão). Por isso é crucial não apenas montar reuniões
administrativas, mas reuniões para bater papo, ver partidas de futebol, ir a teatros,
brincar com jogos (com exceção daquele jogo do copo, que perguntamos aos
espíritos quem vai casar com quem... aquele jogo é pecado).
Claro, a
confraternização não basta. Normalmente achamos que nossa simpatia, nossa
vontade e nossa alegria serão suficientes para estabelecer relações
verdadeiras, como se fossemos tão magnéticos que seríamos capazes de atrair as
pessoas de tal forma que elas se tornassem nossos amigos... você pode ser gente
boa, mas não é assim que funciona. Quando lemos Ef. 2:11-22 percebemos que
éramos alienados não só em relação a Deus, mas aos outros também (v. 11 e 12).
Todavia, percebemos que Jesus Cristo trouxe-nos a paz, reaproximando-nos (v. 13
a 18), criando uma nova sociedade marcada por concidadãos.
Esse texto
torna bem claro a importância de Jesus Cristo, não apenas reconciliando-nos com
Deus, mas com o próximo. Não devemos ser peças solitárias em um xadrez, mas
percebermos que o próprio Deus deve estar nos regendo, outorgando-nos
privilégios e as responsabilidades que seu domínio subentende. Esteja,
portanto, ligados diretamente não apenas um com o outro, mas com a vontade de Deus,
estudando a bíblia, bons autores, tendo tempo de oração em conjunto e de
leitura de salmos. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e
no partir do pão, e nas orações”Atos 2:42.
Apenas
criando uma interação forte entre diversos grupos de ABU, sua cidade irá
progredir. Por isso o GB é fundamental. Se um núcleo, sozinho, pode sonhar com
muitas coisas, vários núcleos podem sonhar mais, lutar mais, realizar mais e se
sacrificar mais, pelo bem da próxima jogada, orientada por Deus. Esteja atento
para os demais núcleos...
No próximo
post vou falar sobre cargos na diretoria da região.
Alguma
sugestão?
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