quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O povo quer trabalhar no núcleo, e agora?


Em regra, as ABUs locais são constituídas de núcleos e do grupo base (GB). Cada núcleo tem sua estrutura, como liderança e integrantes próprios, sendo que o grupo base (GB) é a reunião dos núcleos de uma determinada cidade. Os GBs têm fim de confraternização (fazer um churrasquinho, uma noite do pijama, campeonato de Mario Kart) e administrativo (“como faremos uma recepção dos calouros? Como faremos uma festa de despedida? Como apoiaremos a Igreja do He-man no acampamento?”). Mas, não é tarefa de hoje falar sobre GBs. Hoje trataremos dos núcleos! 
O núcleo, na grande maioria das vezes, é composto apenas de um membro formalmente atarefado: o líder do núcleo. Este líder, geralmente, coordena o que os demais integrantes farão. Se o líder for altamente concentrador, sempre temendo delegar funções, ele levará os estudos, ele representará  núcleo nos GBs, ele falará em nome da ABU na faculdade (como pedir salas), ele abrirá palestras, ele irá em reuniões regionais e nacionais da ABU. Claro, nenhum líder se considera controlador! Então, se ele perceber que está fazendo coisas de mais, ou se alguém lhe falar isso, ele certamente colocará a culpa na preguiça dos outros integrantes (o que pode ocorrer, mas eu nunca vi um grupo que ninguém quer ajudar em nada de importante).
Todavia, até o líder concentrador sabe que não pode fazer tudo, então esse delegará funções: pedirá aos demais membros que tragam o lanche ou toquem algum instrumento no louvor, se ele não souber. Esse é o tipo de delegação medíocre. No primeiro caso (lanche), o líder apenas delegou um trabalho puramente braçal, mostrando que não confia nos integrantes para coisas mais profundas (como levar estudos e liderar algumas reuniões) ou não quer deixar que os outros “apareçam” (aos outros, cabem os papeis secundários). No segundo caso (delegou louvor, por que não sabe tocar nada), o líder mostra que ele só delegou por que não conseguia fazer... se conseguisse, certamente ele faria.
Um líder que se preze tem que lutar contra sua vontade concentradora, pois ele sabe delegar funções e está sempre preocupado em envolver o núcleo, permitindo que os talentos dos demais integrantes aflorem-se. No Direito-Noturno, no ano de 2008, antes que eu o liderasse, nós preferíamos distribuir funções formalmente, tentando envolver a todos por meio da responsabilidade do seu cargo. Não era, portanto, apenas um líder, mas um grupo de líderes, evitando que concentrássemos poderes nas mãos de apenas uma pessoa. É um bom modo de tentar evitar um líder concentrador. Eram nossos cargos (já falei uma vez sobre eles):
1- Ministro da palavra: o cara que levava os estudos, que acabou virando nosso líder-mor;
2- Ministro das relações exteriores: o cara que fazia contato com o resto da ABU-BH (ou seja, ia aos GBs, aos treinamentos, repassava informações) e levava nosso nome internacionalmente (tendo capacidade de decidir questões básicas tais como pedido de salas, autorizações, convite de palestrantes – após aprovação do grupo);
3- Ministro das relações novas ou interiores: aquele que recebe, aconchega, introduz na conversa, o cara que visitava nossos integrantes, ou delegava visitas (tínhamos, como já dito no último post, um plano de visitar os membros e visitantes pelo menos uma vez por semana, em seus intervalos, para bater papo mesmo);
4- Ministro da oração do fogo do sétimo dia: ministro que cuidava das nossas reuniões de orações no sábado;
5- Ministro da propaganda (tinha esquecido desse no primeiro post): levava o nome do grupo até os confins da faculdade e – por que não?- até Venda Nova. Ele era responsável por alimentar nosso blog, nosso jornal (fazíamos um jornalzinho a cada dois meses, na verdade fizemos só uns quatro e eu nunca ajudei... veja nossas edições com a Fernanda Bittencourt), publicar cartazes, tentar divulgar a ABU em eventos na faculdade... Acho crucial ter esse cargo bem definido, pois não temos noção o tanto de pessoas que vieram reclamar comigo que só conheceram a ABU após formar na faculdade.
Os núcleos geralmente são pequenos, então não há como desenvolver uma estrutura completa e profunda como essa que havíamos desenvolvido. Mesmo que você conclua em ter apenas o líder de núcleo como cargo formal, pergunte-se sempre: o que os demais integrantes sabem fazer bem? Como elas podem me ajudar? Como posso mostrar que elas são importantes para o núcleo e, principalmente, para mim? Então passe a delegar funções importantes no núcleo (como dar estudos, liderar equipes, liderar comissões, liderar recepção de calouros).
Hoje em dia penso que o ideal seja ter pelo menos dois líderes por núcleo. De preferência um homem e uma mulher. Vejo como vantagem:
1- Evita a solidão! (todo líder se sente só, quando as dificuldades chegam)
2- Evita a tirania gospel: o líder messiânico sabe o que é bom para todos! (mais comum na ABU do que vocês podem imaginar, presente, principalmente, no argumento de autoridade: “Mas o Macumbatasarai falou isso”; “Ah tá, se ele falou”)
3- Proporciona dois líderes para aconselhamento! (já tentei aconselhar mulheres, mas homem é completamente diferente. Uma vez uma colega veio chorando que o namorado dela havia terminado. Se fosse um homem, chamá-lo-ia para jogar videogame... como era mulher, falei: “Há outros peixes no mar”. Queria ter pensado em algo melhor...)
4- Nos faz olhar para outras pessoas dentro do grupo! (evitar panelinha. Quando dei aula de teatro com a Gabriela, minha irmã, criamos uma peça de teatro que chamava Joana (referência a Jonas). Íamos escolher a menina para ser a personagem principal. Eu queria que fosse o Michel, um amigo meu, muito gente boa. A Gabriela pediu que fosse a Ana Maria. Eu nem sabia quem era ela, mas atendi o pedido... com algumas semanas de treino, percebi que era a menina mais fantástica que um professor de teatro poderia ter arrumado. Se não tivéssemos dois líderes sobre aquele grupo, acho que jamais teria visto um talento nato como aquele).
Enquanto eu liderei o grupo do Direito-Noturno-UFMG, em 2009, eu achei melhor acabar com as divisões formais que elenquei acima, sendo que cada integrante seria responsável pelo bom andamento do núcleo. Acho que isso não era ideal. Dar funções bem definidas é bom ao núcleo (ele fica mais equilibrado, pois cada um cuida de suas funções vitais) e para a pessoa que assume o cargo, pois aumenta seu senso de responsabilidade. Todavia, a ABU do ano anterior não se repetiu no ano que liderei (alguns formaram, alguns começaram com estágio, alguns tinham estudos para concursos e outros fugiram). Além disso, os novos membros estavam com medo de assumir responsabilidade em um núcleo que não conheciam (o que é normal!).
Eu tinha como meta distribuir as funções, sobretudo a de levar estudos. Acreditava que isso aumentaria a integração de todos, a noção de importância dentro do núcleo e evitaria aquele sentimento que eu tive no ano anterior a minha liderança: uma vontade desesperada de “pregar”, mas que tinha que ser abafada por que só meu líder tinha essa responsabilidade. Dessa forma, eu levaria um estudo em uma semana e outros integrantes levariam o estudo na outra semana (revezando, sempre). Pensei ainda que não adiantava delegar funções sem preparar quem as receberia, então combinei comigo mesmo que ia fazer isso depois do treinamento da cidade da ABU, onde todos eram obrigados a participar da oficina: “Como fazer um Estudo Bíblico Indutivo – EBI”. Infelizmente, só uma amiga foi nessa reunião. Então chamei minha amiga da Direito-Diurno para dar uma oficina para nosso grupo (praticamente uma aula particular). Após a reunião, passamos a fazer esse revezamento, apesar dos demais membros do grupo não tentarem aplicar o EBI em seus estudos, só “sermõezinhos” (a maioria muito bons!). O núcleo encheu naquele semestre e foi muito bom ver o envolvimento de todos.
No outro semestre do mesmo ano, decidi que eu deveria dar os estudos do núcleo - todos! Não me lembro muito bem o que estava envolvido nessa decisão controladora, provavelmente falei que era por causa dos demais integrantes não aplicarem o EBI. Atualmente, acho que fui motivado pela minha vontade de aparecer como sábio da ABU, consolidar minha liderança, meus talentos e angariar um cargo maior na ABU (estava de olho em virar diretor do nosso Grupo Base). De fato, o EBI foi mais aplicado, fui visto como único integrante do nosso grupo do direito que tinha envolvimento com a ABU-Minas, ganhei visibilidade e virei presidente da ABU-BH no outro ano... o preço que paguei foi uma ABU-Direito-Noturno que não era envolvida, com membros que eram cruciais indo embora, com desinteresse e, por fim, com a tristeza de ir em um estudo e não haver ninguém... isso já havia ocorrido outras vezes, mas, no fundo, tinha sido a primeira vez que eu sabia que a culpa tinha sido minha. Foi um dia muito triste.
Eu aprendi muita coisa com isso. Hoje, acredito que um bom líder é aquele que controla seus impulsos egoísticos de aparecer. Ele tenta capacitar os integrantes do grupo, liderando-as para melhor desenvolver suas qualidades. Isso é uma forma não só de evitar um grupo vazio, mas também de valorizar as pessoas a nossa volta, envolvendo-as no movimento e permitindo que novas lideranças surjam para dar continuidade aos trabalhos. Alguns líderes são tão personalistas que a ABU se confunde com eles, sendo que, após sua saída, o grupo tende a acabar. O desenvolvimento de novas lideranças, delegando-lhes responsabilidade, não é apenas o segredo de um grupo cheio, é, também, muito gratificante. Só dessa maneira deixaremos mais que um grupo cheio: deixaremos um legado.
No próximo post, irei falar dos cargos nos Grupos Bases.
Algum palpite?  

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