terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Virei líder de um núcleo de ABU e agora?


 Há cinco anos eu me fazia essa mesma pergunta. Após um ano convivendo com um núcleo confuso, que se proclamava semi-ABU, apesar de não ter qualquer relação com o movimento (e nem gostar dele), assumi a liderança da ABU-Direito-Noturno da UFMG. Bem, não foi uma liderança formal, visto que não tivemos eleições nem uma transição de liderança... eu era a chamada liderança de fato. Ocorreu que meu líder não voltou das férias de janeiro e, após um mês, percebemos que ele não mais voltaria (apesar dele continuar indo nas aulas). Um ano depois, a ABU-BH fez a maior irresponsabilidade dos seus longos cinquenta anos de existência: fui eleito presidente da maior ABU do Brasil, na época – e acredito que ainda hoje.
Minha segunda posse, agora como presidente, foi meio perdida também. O antigo presidente me ajudou muito na época (se elegendo, inclusive, tesoureiro da ABU-BH), mas a sensação de que não fazia a mínima ideia do que estava fazendo esteve presente por bons 3 ou 4 meses de meu “mandato”... Quis mudar coisas que não devia, ignorei pessoas que não devia, ouvi pessoas que não devia, e acabei devendo àqueles que realmente devia. Agora, após vários anos de ministério, acredito que posso refletir melhor sobre meus erros e acertos, mesmo que os últimos tenham sido mínimos.
Ao assumir um novo cargo em sua ABU, creio que seja comum as seguintes perguntas: “será que vou fazer algo de bom? Será que sou capaz? Será que tenho boas ideias? Será que vai dar certo?”. Essas perguntas e muitas outras podem vir de dois motivos, sendo os dois comuns.
As perguntas, primeiramente, podem vir da preocupação sobre o ministério que você está para assumir. Isso é bom, pois reflete seu amor por seu ministério e revela a sua preocupação com ele.
O segundo motivo que fará você se perguntar a respeito disso é comum, mas emerge do egocentrismo cristão: não estamos mais preocupados com a obra, com o fazer a ordenança de Cristo, mas em sermos os escolhidos que fizeram a diferença. Portanto, este motivo egoísta reflete nossa preocupação não com o evangelho de Cristo, mas com nossa própria imagem e desespero de estar frente aos holofotes. Ao assumir um cargo na ABU, pense sempre: para quem estou fazendo tudo isso? Colocar Cristo no centro é a única forma de levar o cristianismo com pureza às nossas faculdades. Se colocar-se no centro, por outro lado, além de fazer gerar estas perguntas egoístas, gerarão padrões seculares ao seu grupo de ABU: “nossos GBs estão cheios? Nossos núcleos estão se reproduzindo? As pessoas têm me visto? Sou um grande líder? Como a ABUB vê meu núcleo? Será que a ABU tem reconhecido tudo que estou fazendo?”... Ser antropocêntrico não impede você de fazer coisas grandiosas (na vista dos outros), mas você passa a fazer pelo motivo errado.
Após refletir sobre seus atos (cuidado, pois adoramos dizer que tudo é para Cristo, antes de realmente refletir sobre nossos motivos!), devemos buscar algumas informações acerca do núcleo. Converse com os ex-líderes, ex-integrantes, integrantes atuais e, principalmente, com integrantes do meio acadêmico em que você se insere (afinal, eles devem ser seu alvo). Faça, assim que possível, reuniões individuais (reuniões é jeito de dizer, mande um e-mail, ou um post no face, ou pague um lanche) e busque informações que achar necessárias, dentre as quais talvez seja interessante responder as seguintes perguntas:
1- Como somos vistos dentro de nossos muros universitários? Um grupo de lunáticos que não pensa? Ou talvez um grupo de intelectuais alheios às preocupações universitárias?
2- Como temos recebidos nossos integrantes e visitantes? Temos consciências que Deus nos chamou para levar sua palavra para eles ou temos usado a ABU como um grupo de amigos (vulgo panela) ou uma forma de autopromoção (e, por que não, arrumar namorada)?
3- O que preciso saber sobre esse grupo de ABU? (há muitas coisas nas entrelinhas que não conseguimos compreender. Um exemplo: minha amiga gostava de me ajudar no núcleo da ABU-Direito e sempre admirei sua capacidade de liderança. Um tempo depois ela sumiu. Pedi a uma amiga que conversasse com ela, que justificou sua prolongada ausência: “Eu só ia à ABU por que estava afim do He-man (nome fictício), você sempre soube que tinha começado a ir lá por causa dele! Mas ele formou...” Assim, perdemos nossa futura líder)
4- O que fazemos bem como grupo da ABU?
5- O que fazemos mal como grupo da ABU?
6- Quais problemas temos que resolver com certa urgência?
7- Qual a nossa relação com a liderança da ABU?
8- O que você espera de mim?
8- Como você pode me ajudar nisso?
Todas essas conversas devem ser objeto de anotações, para que, depois, quando estiver sozinho, escreva sobre os pontos levantados, de acordo com sua capacidade de entendimento de cada um dos problemas enfrentados e de como resolvê-los.
Em par dos problemas, dificuldades, entrelinhas e coisas boas, está na hora de sonharmos com uma ABU melhor. Sonhar é uma capacidade de pensar em algo que pode nunca se realizar, então, tome cuidado... Tem gente que sonha de mais, por isso nunca está realizado; tem gente que sonha errado, por isso nunca SE realiza; tem gente que não sonha, por isso nunca sai do lugar. Tenha um sonho modesto, focado, principalmente, no bem do grupo e como interagi-lo com seu propósito. E cuidado com sonhos megalomaníacos, que desrespeitem o movimento e tudo que foi até então criado. Às vezes, tentando resolver problemas do movimento, acabamos por descaracterizá-lo, desrespeitando as pessoas que nos antecederam e afastando-as. Por isso, primeiro entenda o grupo, como ele se encontra e, só depois, sugira algo com toda humildade possível, sabendo que, talvez, o melhor seja você ser ignorado.
Marque, então, uma reunião com os líderes em influência daquela ABU (ou seja, pessoas mais envolvidas, ou que já tiveram envolvidas com o movimento). Faça uma reunião informal (se possível em sua casa, ou casa de alguém, ou em uma lanchonete) e avise o tema: “planos para 2013”. Tá aí a oportunidade de mostrar seus sonhos e ouvir sonhos alheios: todos devem estar conscientes do que deve ser feito e acreditar no que será feito!
Lembre-se que, antes de tomar qualquer decisão, você deve ouvir as pessoas que estão próximas e que serão afetadas por aquilo que você deseja fazer. Se impuser seu ponto de vista sem sequer ouvir opiniões diversas, você não poderá contar com a parte mais importante do seu trabalho: o comprometimento de toda a equipe. Se ouvir mais suas ideias do que seus amigos, você poderá terminar sua liderança só com elas.
Por fim, falta uma coisa muito importante e que deve ser feito desde o início: dividir funções. Delegar funções é uma parte importante de qualquer liderança. Primeiro, impedimos a solidão do cume do poder (uma coisa comum, quando se vira líder, é achar que pode fazer tudo e que, para ser bem feito, você deve participar... cuidado com a vaidade, que nos afasta das demais pessoas para um culto incessante a nos mesmos). Segundo, permitimos que pessoas utilizem seus dons (“poxa, se tem um cara que é contador, entende tudo de economia, é envolvido com o movimento, por que ele não pode ser nosso tesoureiro? Por que tem que ser eu, que faço história?”). Terceiro: possibilitamos que mais pessoas se envolvam no movimento... Como dizia o tio Bem: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”.
Cada grupo tem sua característica e, por isso, cada um deve ter suas funções definidas por ele mesmo (olhe no estatuto da ABU sobre cargos obrigatórios). Na ABU-BH, delegamos funções da seguinte maneira: Presidência; Vice-Presidência; Secretaria; Tesouraria; Secretaria de Comunicação e Literatura; Secretaria de Apoio a ABS. Caso seu grupo seja menor, ou maior, talvez outras funções devam ser levantadas. Na época que liderava o núcleo do direito tínhamos a seguintes funções:
1- Ministro da palavra: o cara que levava os estudos;
2- Ministro das relações exteriores: o cara que fazia contato com o resto da ABU-BH (ou seja, ia aos GBs, aos treinamentos, repassava informações);
3- Ministro das relações interiores: o cara que visitava nossos integrantes, ou delegava visitas (tínhamos um plano de visitar os membros pelo menos uma vez por semana, em seus intervalos, para bater papo mesmo – inclusive, evitando conversar exclusivamente sobre a ABU. Os visitantes, claro, também deveriam ser visitados);
4- Ministro da oração do fogo do sétimo dia: ministro que cuidava das nossas reuniões de orações no sábado.
Como pode ver, éramos meio zoados. Farei outro poste sobre delegação de funções, mas fica a dica por enquanto...
E você, o que fez ao assumir sua ABU? Tem alguma boa ideia? Alguma dúvida? Alguma história? Tá perdido? Conte aí!


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