Bem, já
contei uma vez para vocês que o líder da ABU-Direito-Noturno-UFMG, o Erick, sumiu
e por isso assumi o cargo. Hoje contarei a história de um líder antes desse, o Hank.
Era um sábio, um grande homem, bondoso, preocupado conosco e pregava muito (na
época não usávamos estudos bíblicos indutivos- EBI, éramos uma reprodução de
uma igrejinha). Era, também, um grande teólogo e, inclusive, aprendi muito com
ele. Nós o apelidamos de Cid Moreira, pois sabia a bíblia toda de cor.
Em resumo, ele
era tão bom que só ele fazia tudo: ele pregava, orava, olhava o local que
iríamos nos encontrar e, se precisasse, tocava violão. Ocorreu que um dia ele
passou em um concurso e foi embora. Portanto, além de saber a bíblia mais do
que todos, também era mais inteligente que todos. Voltamos do semestre e
ficamos atordoados com a informação que nosso sábio havia saído. O grupo entrou
em crise, o que faríamos? Fiquei triste e quase chorei, afinal era o líder que
eu mais tinha admirado em minha vida. Achei que o grupo ia acabar... então, Presto,
um aluno integrante do grupo, resolveu chamar os demais (na época 3) e dividiu
algumas funções entre nós: Presto lideraria o grupo; Erick levaria a palavra (que
virou meu futuro líder) e eu arrumaria uma sala e imprimiria uma propaganda
sobre o grupo (o que nunca tinha sido feito).
Após duas
semanas, retornamos nossos estudos, agora com a sala nova e com cartazes em
toda a faculdade. A surpresa foi geral: em vez das tradicionais 4 pessoas,
nosso grupo passou a contar com mais de dez pessoas!
Bem, Hank
tinha sido um cara incrível e creio que será, ainda, um grande pregador.
Todavia, ele havia juntado toda a responsabilidade de um grupo em suas mãos e
nós, covardemente, ficamos parados admirando-o. Com sua saída, todos os
integrantes do grupo se envolveram com a causa, ficamos mais integrados, mais
corajosos, sentimo-nos mais importantes, conseguimos um maior envolvimento com
a faculdade e, principalmente, passamos a convidar nossos amigos. Se antes Hank
era responsável pela vida do grupo, no momento, todos nós éramos.
Como o leitor
pode perceber, estamos tratando de divisão de funções, que é uma parte
importante de qualquer liderança. Primeiro, impedimos a solidão do cume do
poder (parece bobo, mas, se você se põe no alto, superior aos demais,
responsável por todas as decisões, você acaba impedindo que outros se acheguem
em você. A não ser que você desça até eles). Segundo, permitimos que pessoas
utilizem seus dons (é bem triste se sentir subutilizado quando tem vontade de
ajudar, ou se sentir fora da panelinha quando se quer trabalhar). Terceiro,
possibilitamos que mais pessoas se envolvam no movimento...
Para quem não entendeu nada dessa parte |
Se pensarmos
que liderança é capacidade de influenciar, podemos ter ideia de um modelo que
eu adaptei para vários momentos da minha vida: imagine um balde cheio. Imagine
que um copo é virado lentamente sobre ele, deixando apenas que uma gota por vez
pingue sobre aquele balde, criando ondas no líquido. Perto do local que cai a
gota, a água irá muito para cima, todavia, com o afastamento do ponto de
colisão, as águas se elevam bem menos. Agora imagine que dois copos diferentes
são virados sobre o balde lentamente, sendo que as gotas caem na mesma
frequência. As ondas ficarão maiores! Inclusive em locais distante dali! Dessa
vez imagine mais e mais copos pingando... Bem, substitua o balde pela sua
faculdade, o copo por líderes em seu núcleo e verá que, quanto mais pessoas
envolvidas com seu propósito, maior será a capacidade de alcançar a sua
faculdade, influenciando as pessoas ali presentes. E só há uma forma eficiente
de permitir várias pessoas influenciando num determinado grupo: dividindo competências
para permitir a participação de todos.
O bom líder
(ou melhor, o líder “menos ruim”) é aquele que tem percepção suficiente para
escolher pessoas para caminhar junto a ele. Como integrante de um grupo de ABU
(principalmente liderança), devemos desenvolver os demais integrantes, dando-lhes
recursos, autoridade (dentro do que você confia neles) e responsabilidade (nem
de mais, nem de menos!).
Imagine uma
criança. Você dará uma espingarda para ela brincar de matar passarinhos? Acho
que não. Não por que não o ame, mas por que você o ama o suficiente para saber
que ele não está preparado para aquilo... Agora imagine que você tem um filho
adolescente, você dará para ele um brinquedo do Patati Patata para ele não se
machucar? Uma grande virtude que devemos ter como liderança é capacidade de
observar a realidade: não subestime o que os integrantes podem fazer, nem
superestime! É perigoso nunca delegar nada de importante para os demais membros
do seu grupo (como chance de levar estudo, representar o núcleo diante da
escola, abrir uma palestra, cuidar de uma recepção de calouros, convidar
palestrantes), pois eles nunca se sentirão verdadeiramente parte do movimento,
mas meros observadores do que você faz.
Também é
perigoso confiar demais. 2º Timóteo fala: “E o que de mim, entre muitas testemunhas,
ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os
outros”. Sempre que vou delegar funções ministeriais, tento pensar nisso:
1- Pessoas
que ouviram a palavra: pessoa que meditam sobre a bíblia;
2- Homens
fiéis: não namorados, não engraçados, não bonitos, não que toquem violões, não
populares, não parentes. Homens fiéis a Cristo, com a grande comissão, com o
movimento, com o núcleo...;
3- Idôneos:
ou seja, devemos refletir sobre o caráter da pessoa que está recebendo a
delegação;
4- Tenham
capacidade de ensinar os outros: não é ser bons professores, mas pessoas
interessadas a capacitar e envolver outras pessoas, dividindo suas
responsabilidades.
Talvez
possamos até levar um grupo de ABU sozinhos, mas, tenho certeza, dividir esse
trabalho não é só bom para o grupo, mas fundamental para você. Então, tenha
autodomínio suficiente para não se intrometer no trabalho alheio! Às vezes nem
tudo sai da forma que queremos (principalmente no começo da caminhada).
Contudo, quem é você para determinar a qualidade de um trabalho? Às vezes tudo
sai diferente, contudo é preciso dar uma chance para que outros integrantes do
grupo façam da sua maneira: dê liberdade para que cada um contribua de acordo
com sua liberdade, caso isso não esteja prejudicando seu núcleo. Não faça seu
modelo de ser um modelo para todos do núcleo, sempre dando palpites e querendo
mudar algumas coisas. Aprenda
a deixar para lá. Lembre-se da música: “We don't need no education/ We don't
need no thought control/ No dark sarcasm in the classroom/ Teachers leave them
kids alone/ Hey! Teachers! Leave them kids alone!/ All in all it's just another
brick in the wall./ All in all you're just another brick in the wall” (Não
precisamos de nenhuma educação /Não precisamos de controle mental /Chega de
humor negro na sala de aula /Professores,
deixem as crianças em paz /Ei! Professores! Deixem essas crianças em paz! /Tudo
era apenas um tijolo no muro /Todos são somente tijolos na parede – Vagalume.com.br).
Nunca o
sabote ou critique demasiadamente, também, as pessoas que estão recebendo as
delegações. Ainda mais se for de forma sarcástica (principalmente no facebook)!
Quando se faz isso, está apenas deixando refletir sua enorme insegurança em
relação aos seus liderados, temendo que seja sombra de algum deles (como se a
ABU fosse uma competição de popularidade ou de talentos). Você delegou função
por que confiou neles! Lembre-se sempre disso antes de criticá-los. Mais uma
vez o profeta em inglês nos faz refletir com sua música: “When we grew up and
went to school/ There were certain teachers who would /Hurt the children in any
way they could (oof!) /By pouring their derision /Upon anything we did /And
exposing every weakness /However carefully hidden by the kids /But in the town
it was well known /When they got home at night, their fat and /Psychopathic
wives would thrash them /Within inches of their lives” (Quando crescemos e
fomos à escola /Havia certos professores que /Machucariam as crianças da forma
que eles pudessem (oof!) /Despejando escárnio /Sobre tudo o que fazíamos /E os
expondo todas as nossas fraquezas /Mesmo que escondidas pelas crianças /Mas na
cidade era bem sabido /Que quando eles chegavam em casa /Suas esposas, gordas
psicopatas, batiam neles quase até a morte – Vagalume.com.br).
Hoje, falei
apenas sobre a importância de se delegar cargos e dividir funções em nossos
grupos, respeitando a individualidade do trabalho de todos. No próximo post
irei falar sobre alguns cargos da ABU, sobretudo quanto ao núcleo e à diretoria
de uma cidade. Em outro poste irei tratar do problema de uma visão fragmentária
do serviço na ABU.
Como podem
ver, delegar funções dá trabalho, até para quem está escrevendo sobre isso...
E você,
alguma sugestão?
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