Em regra, as
ABUs locais são constituídas de núcleos e do grupo base (GB). Cada núcleo tem
sua estrutura, como liderança e integrantes próprios, sendo que o grupo base
(GB) é a reunião dos núcleos de uma determinada cidade. Os GBs têm fim de
confraternização (fazer um churrasquinho, uma noite do pijama, campeonato de
Mario Kart) e administrativo (“como faremos uma recepção dos calouros? Como
faremos uma festa de despedida? Como apoiaremos a Igreja do He-man no
acampamento?”). Mas, não é tarefa de hoje falar sobre GBs. Hoje trataremos dos
núcleos!
O
núcleo, na grande maioria das vezes, é composto apenas de um membro formalmente atarefado: o líder do núcleo. Este líder,
geralmente, coordena o que os demais integrantes farão. Se o líder for
altamente concentrador, sempre temendo delegar funções, ele levará os estudos,
ele representará núcleo nos GBs, ele
falará em nome da ABU na faculdade (como pedir salas), ele abrirá palestras,
ele irá em reuniões regionais e nacionais da ABU. Claro, nenhum líder se
considera controlador! Então, se ele perceber que está fazendo coisas de mais,
ou se alguém lhe falar isso, ele certamente colocará a culpa na preguiça dos
outros integrantes (o que pode ocorrer, mas eu nunca vi um grupo que ninguém quer
ajudar em nada de importante).
Todavia, até
o líder concentrador sabe que não pode fazer tudo, então esse delegará funções:
pedirá aos demais membros que tragam o lanche ou toquem algum instrumento no
louvor, se ele não souber. Esse é o tipo de delegação medíocre. No primeiro
caso (lanche), o líder apenas delegou um trabalho puramente braçal, mostrando
que não confia nos integrantes para coisas mais profundas (como levar estudos e
liderar algumas reuniões) ou não quer deixar que os outros “apareçam” (aos
outros, cabem os papeis secundários). No segundo caso (delegou louvor, por que
não sabe tocar nada), o líder mostra que ele só delegou por que não conseguia
fazer... se conseguisse, certamente ele faria.
Um líder que se
preze tem que lutar contra sua vontade concentradora, pois ele sabe delegar
funções e está sempre preocupado em envolver o núcleo, permitindo que os
talentos dos demais integrantes aflorem-se. No Direito-Noturno, no ano de 2008,
antes que eu o liderasse, nós preferíamos distribuir funções formalmente,
tentando envolver a todos por meio da responsabilidade do seu cargo. Não era,
portanto, apenas um líder, mas um grupo de líderes, evitando que
concentrássemos poderes nas mãos de apenas uma pessoa. É um bom modo de tentar evitar
um líder concentrador. Eram nossos cargos (já falei uma vez sobre eles):
1- Ministro
da palavra: o cara que levava os estudos, que acabou virando nosso líder-mor;
2- Ministro
das relações exteriores: o cara que fazia contato com o resto da ABU-BH (ou
seja, ia aos GBs, aos treinamentos, repassava informações) e levava nosso nome
internacionalmente (tendo capacidade de decidir questões básicas tais como
pedido de salas, autorizações, convite de palestrantes – após aprovação do
grupo);
3- Ministro
das relações novas ou interiores: aquele que recebe, aconchega, introduz na
conversa, o cara que visitava nossos integrantes, ou delegava visitas
(tínhamos, como já dito no último post, um plano de visitar os membros e
visitantes pelo menos uma vez por semana, em seus intervalos, para bater papo
mesmo);
4- Ministro
da oração do fogo do sétimo dia: ministro que cuidava das nossas reuniões de
orações no sábado;
5- Ministro
da propaganda (tinha esquecido desse no primeiro post): levava o nome do grupo
até os confins da faculdade e – por que não?- até Venda Nova. Ele era
responsável por alimentar nosso blog, nosso jornal (fazíamos um jornalzinho a
cada dois meses, na verdade fizemos só uns quatro e eu nunca ajudei... veja
nossas edições com a Fernanda Bittencourt), publicar cartazes, tentar divulgar
a ABU em eventos na faculdade... Acho crucial ter esse cargo bem definido, pois
não temos noção o tanto de pessoas que vieram reclamar comigo que só conheceram
a ABU após formar na faculdade.
Os núcleos
geralmente são pequenos, então não há como desenvolver uma estrutura completa e
profunda como essa que havíamos desenvolvido. Mesmo que você conclua em ter
apenas o líder de núcleo como cargo formal, pergunte-se sempre: o que os demais
integrantes sabem fazer bem? Como elas podem me ajudar? Como posso mostrar que
elas são importantes para o núcleo e, principalmente, para mim? Então passe a
delegar funções importantes no núcleo (como dar estudos, liderar equipes,
liderar comissões, liderar recepção de calouros).
Hoje em dia
penso que o ideal seja ter pelo menos dois líderes por núcleo. De preferência
um homem e uma mulher. Vejo como vantagem:
1- Evita a
solidão! (todo líder se sente só, quando as dificuldades chegam)
2- Evita a
tirania gospel: o líder messiânico sabe o que é bom para todos! (mais comum na
ABU do que vocês podem imaginar, presente, principalmente, no argumento de
autoridade: “Mas o Macumbatasarai falou isso”; “Ah tá, se ele falou”)
3-
Proporciona dois líderes para aconselhamento! (já tentei aconselhar mulheres,
mas homem é completamente diferente. Uma vez uma colega veio chorando que o
namorado dela havia terminado. Se fosse um homem, chamá-lo-ia para jogar
videogame... como era mulher, falei: “Há outros peixes no mar”. Queria ter
pensado em algo melhor...)
4- Nos faz
olhar para outras pessoas dentro do grupo! (evitar panelinha. Quando dei aula
de teatro com a Gabriela, minha irmã, criamos uma peça de teatro que chamava
Joana (referência a Jonas). Íamos escolher a menina para ser a personagem
principal. Eu queria que fosse o Michel, um amigo meu, muito gente boa. A
Gabriela pediu que fosse a Ana Maria. Eu nem sabia quem era ela, mas atendi o
pedido... com algumas semanas de treino, percebi que era a menina mais
fantástica que um professor de teatro poderia ter arrumado. Se não tivéssemos
dois líderes sobre aquele grupo, acho que jamais teria visto um talento nato
como aquele).
Enquanto eu
liderei o grupo do Direito-Noturno-UFMG, em 2009, eu achei melhor acabar com as
divisões formais que elenquei acima, sendo que cada integrante seria
responsável pelo bom andamento do núcleo. Acho que isso não era ideal. Dar
funções bem definidas é bom ao núcleo (ele fica mais equilibrado, pois cada um
cuida de suas funções vitais) e para a pessoa que assume o cargo, pois aumenta
seu senso de responsabilidade. Todavia, a ABU do ano anterior não se repetiu no
ano que liderei (alguns formaram, alguns começaram com estágio, alguns tinham estudos
para concursos e outros fugiram). Além disso, os novos membros estavam com medo
de assumir responsabilidade em um núcleo que não conheciam (o que é normal!).
Eu tinha como
meta distribuir as funções, sobretudo a de levar estudos. Acreditava que isso
aumentaria a integração de todos, a noção de importância dentro do núcleo e
evitaria aquele sentimento que eu tive no ano anterior a minha liderança: uma
vontade desesperada de “pregar”, mas que tinha que ser abafada por que só meu
líder tinha essa responsabilidade. Dessa forma, eu levaria um estudo em uma
semana e outros integrantes levariam o estudo na outra semana (revezando,
sempre). Pensei ainda que não adiantava delegar funções sem preparar quem as
receberia, então combinei comigo mesmo que ia fazer isso depois do treinamento
da cidade da ABU, onde todos eram obrigados a participar da oficina: “Como fazer
um Estudo Bíblico Indutivo – EBI”. Infelizmente, só uma amiga foi nessa
reunião. Então chamei minha amiga da Direito-Diurno para dar uma oficina para
nosso grupo (praticamente uma aula particular). Após a reunião, passamos a
fazer esse revezamento, apesar dos demais membros do grupo não tentarem aplicar
o EBI em seus estudos, só “sermõezinhos” (a maioria muito bons!). O núcleo
encheu naquele semestre e foi muito bom ver o envolvimento de todos.
No outro
semestre do mesmo ano, decidi que eu deveria dar os estudos do núcleo - todos!
Não me lembro muito bem o que estava envolvido nessa decisão controladora, provavelmente
falei que era por causa dos demais integrantes não aplicarem o EBI. Atualmente,
acho que fui motivado pela minha vontade de aparecer como sábio da ABU,
consolidar minha liderança, meus talentos e angariar um cargo maior na ABU
(estava de olho em virar diretor do nosso Grupo Base). De fato, o EBI foi mais
aplicado, fui visto como único integrante do nosso grupo do direito que tinha
envolvimento com a ABU-Minas, ganhei visibilidade e virei presidente da ABU-BH
no outro ano... o preço que paguei foi uma ABU-Direito-Noturno que não era
envolvida, com membros que eram cruciais indo embora, com desinteresse e, por
fim, com a tristeza de ir em um estudo e não haver ninguém... isso já havia
ocorrido outras vezes, mas, no fundo, tinha sido a primeira vez que eu sabia
que a culpa tinha sido minha. Foi um dia muito triste.
Eu aprendi
muita coisa com isso. Hoje, acredito que um bom líder é aquele que controla
seus impulsos egoísticos de aparecer. Ele tenta capacitar os integrantes do
grupo, liderando-as para melhor desenvolver suas qualidades. Isso é uma forma
não só de evitar um grupo vazio, mas também de valorizar as pessoas a nossa
volta, envolvendo-as no movimento e permitindo que novas lideranças surjam para
dar continuidade aos trabalhos. Alguns líderes são tão personalistas que a ABU
se confunde com eles, sendo que, após sua saída, o grupo tende a acabar. O desenvolvimento
de novas lideranças, delegando-lhes responsabilidade, não é apenas o segredo de
um grupo cheio, é, também, muito gratificante. Só dessa maneira deixaremos mais
que um grupo cheio: deixaremos um legado.
No próximo
post, irei falar dos cargos nos Grupos Bases.
Algum
palpite?
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